O produtor de hip-hop AraabMuzik durante apresentação neste ano
“Misturei bastante no meu primeiro disco, mas no próximo quero misturar ainda mais”, diz Araab, que conta ter crescido ouvindo todo tipo de som para “abrir” a mente. “Às vezes, fico aflito, porque há tanta música por aí para ser ouvida.” A postura do músico mostra que samplear não é coisa de malandro, embora haja aqueles que copiam mal ou imitam descaradamente, sem retrabalho ou qualidade (leia mais abaixo). E o músico tem razão. Um sample não significa falta de criatividade. Quando bem feito, o “roubo” é na verdade um empréstimo, realizado com a finalidade de tornar a música mais interessante. Araab, por exemplo, é tão hábil com a MPC (Music Production Center), equipamento com o qual se apresenta ao vivo, que cria na hora músicas que parecem compostas por uma banda inteira. E que o deixam livre para se apresentar sozinho, sem grupo de apoio. “Há muitas coisas acontecendo hoje para focarmos só em uma. A mistura é o novo pop”, sentencia o músico.
Criada pela fabricante japonesa Akai no começo dos anos 1990, a MPC mistura bateria eletrônica e sampler e permite que o usuário grave e manipule os sons da maneira que quiser, apertando botões (“pads”), como em um teclado. Até bem pouco tempo, o equipamento era mais usado para produção de hip-hop, e raramente tocado ao vivo. No entanto, nos últimos anos, graças a gente como AraabMuzik, ele passou a ser visto com fascínio por artistas de diversas searas. Entronizada sobre o palco, a MPC ganhou vários modelos – o de Araab é o 2500. Para Gabriel Klein, diretor criativo da revista americana Vice e curador do evento multimídia Creators Project, o mérito do músico está na rapidez e na experiência com a ferramenta. Atributos que fazem a diferença no manuseio da MPC.
“É difícil fazer o equipamento soar como um instrumento analógico. A dificuldade é a mesma de se tocar um instrumento convencional. Mas Araab tem a habilidade de colocar o som certo na tecla certa”, diz o rapper Emicida, um dos brasileiros adeptos do uso da ferramenta em shows, ao lado da cantora Céu e do músico Curumin. Para Emicida, ainda há preconceito com quem sampleia, quase sempre visto como um plagiador, mas isso deve mudar em breve. “Vivemos um momento novo na música.”
Disco riscado – Mas nem só de MPC e de bons sampleadores vive essa nova onda. Há de fato aqueles que se aproveitam da oferta de música na internet para se apropriar da obra de outros de maneira nada criativa. Entre eles, está o DJ Skrillex, o novo hype da música eletrônica americana, que aposta em uma colagem esquizofrênica de gêneros sob o chapéu “dubstep”. Estilo musical surgido no começo dos anos 2000 na Inglaterra, o dubstep é, para simplificar, um drum ‘n bass mais lento. Ao contrário de bons DJs e produtores, Skrillex não faz nada ao vivo. Tudo é pré-produzido em estúdio, e, quando ele se apresenta em shows e festivais, faz o tipo clássico de DJ que só balança as mãos e agita a galera – como um cantor que se vale de playback no palco. O único mérito do artista, que largou o rock emo para se dedicar à música eletrônica em 2007, foi tornar palatável um gênero que dificilmente teria aceitação nos EUA, meca da música pop.
Outro exemplo de artista de repertório duvidoso é Gotye, codinome do australiano Wouter De Backer, que subiu ao topo das paradas dos EUA e de quase todos os países da Europa com a faixa Somebody That I Used To Know. A música é baseada em melodia criada pelo brasileiro Luiz Bonfá para a música Seville, de 1967, mas este não é o único “roubo” que o músico praticou para compor seu disco mais recente, Making Mirrors (vide lista). Nem é o xis da questão. Gotye até utiliza bem os samples que escolhe, seu problema é mesmo a composição do repertório. Extremamente irregular, ele não tem personalidade. É como se cada música fosse de um artista diferente. E, a julgar pela quantidade de samples usados, são mesmo. “Eu gosto de garimpar discos desconhecidos e acho que é por isso que as músicas mexem com as pessoas. Elas criam uma conexão com as canções que vai além da letra”, vende-se Gotye
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