José Marcio Faria, o vereador eleito que inovou na forma de fazer campanha usando seu blog na internet


José Márcio Rocha Faria, 48 anos, casado, natural de Lavras, teve uma coluna de publicação semanal no Jornal de Lavras denominada "Manicômio", que posteriormente se tornou um blog, o "Manicômio News", onde critica, de forma bem humorada, diversas situações e a atuação de autoridades da cidade, sobretudo os atuais vereadores. Este trabalho o tornou muito conhecido em Lavras.

José Marcio é engenheiro florestal formado na Escola Superior de Agricultura de Lavras, possui mestrado em Engenharia Florestal (Silvicultura de Espécies Nativas) pela Universidade Federal de Lavras e doutorado em Biologia de Sementes pela Universidade de Wageningen, Holanda. É professor do do Departamento de Ciências Florestais (DCF) da Universidade Federal de Lavras (Ufla) desde outubro de 1997, tendo sido coordenador do Programa de Pós-Graduação em Engenharia Florestal da UFLA, de setembro de 2007 a maio de 2012.

José Márcio concorreu a uma cadeira na Câmara Municipal de Lavras pelo sigla do Partido dos Trabalhadores (PT), foi ousado e inovador, mostrou uma nova forma de fazer campanha e foi eleito com 593 votos, deixando para trás alguns políticos bem conhecidos na cidade. Leia a entrevista publicada originalmente no jornal impresso LavrasNews, edição n. 579, de 13 de outubro de 2013:

Quem é José Marcio Faria?
JMF: Sou lavrense, filho de Lucília Cicarelli e Paulo Rocha Faria Filho. Sou Engenheiro Florestal e professor da Ufla. Nos anos 90 apresentei, juntamente com o radialista Valério de Souza, o Programa Trânsito Livre, na Rádio Rio Grande FM. Em 2010 comecei a escrever, no Jornal de Lavras, uma coluna chamada Manicômio, contendo textos de humor e crítica política, particularmente com relação à atuação dos vereadores de Lavras. Em seguida, a coluna se transformou no Blog Manicômio News, mantendo a mesma linha de humor e uma lupa sobre a atuação de nossos vereadores.

Quando você começou a se interessar por política?
JMF: Sou envolvido com política desde jovem, tendo me filiado ao Partido dos Trabalhadores em 1983. Participei ativamente de passeatas contra a ditadura, pela melhoria do ensino público, do Movimento Diretas Já (1984), Caras Pintadas (1992), e de todas as eleições, desde 1982, por meio de panfletagem, corpo-a-corpo, etc., ajudando voluntariamente aqueles candidatos e projetos de governo, nos quais eu via uma possibilidade de começar a mudar para melhor nossa cidade, nosso Estado e o Brasil. Embora envolvido com política há muito tempo, foi a primeira vez que me candidatei.

Há dois anos você critica no seu blog as reuniões dos vereadores. Não foi uma incoerência você querer se tornar um deles?
JMF: Mas eu nunca quis ser um deles. Serei eu mesmo! Toda a atuação e comportamento da maioria deles, que eu sempre critiquei, serviram para me mostrar como não deve ser um vereador. E outra coisa: a partir do momento que a gente enxerga muita coisa errada lá e critica, torna-se quase que uma obrigação tentar chegar lá e fazer de tudo para mudar a Câmara para melhor, com reflexo positivo na vida de todos.

Suas críticas, no blog, são bem pesadas. O que mais lhe chama a atenção nas reuniões?
JMF: O fato de os vereadores passarem a maior parte do tempo mandando abraços para os amigos, criando datas comemorativas, batizando ruas e distribuindo placas de homenagens e títulos de cidadão honorário. Ou seja, um festival de irrelevância! Projetos de real interesse da sociedade ocupam uma parte mínima da reunião.

Por isso seu slogan de campanha foi "Porque Legislativo é coisa séria"...
JMF: Exatamente.

Quanto você gastou na campanha?
JMF: Setecentos e cinco reais. Fora isso, tive a ajuda do partido na forma de estúdio de gravação do horário para a TV e rádio, santinhos, adesivos e serviço de contabilidade.

Quais são suas propostas?
JMF: Destaco aqui algumas delas: 1) Elaborar lei que exija a construção de ciclovias nos bairros novos, bem como calçadas mais largas, pavimentação duradoura e arborização adequada. 2) Compromisso constante com a Educação. Fiscalização e cobrança do Executivo com relação ao número adequado de profissionais, a qualificação e a condição salarial dos educadores e demais trabalhadores em educação, a situação dos prédios e dos equipamentos escolares, a condição de provimento de materiais, as condições de oferta da merenda e transporte escolar. Neste sentido, contribuir com a produção e a revisão da legislação voltada para o desenvolvimento da educação, a partir de discussão com os profissionais da área. 3) Criar projetos que contribuam para o fortalecimento do ecoturismo e de esportes não convencionais, como o mountain bike, montanhismo, rafting e trekking, aproveitando o potencial que a cidade e região oferecem. 4) Compromisso com a busca de alternativas legais para a redução dos gastos com a Câmara Municipal. 5) Fiscalizar incansavelmente a plena garantia dos direitos das pessoas com deficiências e pessoas idosas. 6) Cobrar da prefeitura uma fiscalização rigorosa dos abusos cometidos no trânsito, como desrespeito à faixa de pedestres e estacionamento indevido em vagas para deficientes ou idosos. 7) Apresentar projeto proibindo a propaganda eleitoral em carros de som, cavaletes e muros. 8) Cobrar da prefeitura a instalação de semáforos para pedestres nos pontos de maior movimento de veículos e pedestres. 9) Propor reforma urgente no Regimento Interno da Câmara para que as reuniões sejam mais eficientes, destinadas e apresentar e discutir projetos, fiscalizar o Executivo. Mais propostas podem ser vistas no meu blog de campanha (paravereadorjosemarciofaria.blogspot.com.br).

Como você teve a ideia de fazer uma campanha totalmente diferente das campanhas tradicionais?
JMF: Na verdade aconteceu naturalmente, pois sempre critiquei essas maneiras tradicionais, como cavaletes, carros de som e muros. Aliás, os políticos não deveriam nunca usar muros. Nem pra pintar, nem pra ficar em cima. Portanto, tendo sempre criticado essas práticas, não teria sentido usá-las agora. O mundo evoluiu, tem a internet, mas os políticos infelizmente ainda insistem nessas estratégias agressivas. E tem também a questão da "desova" dos santinhos em frente aos locais de votação, na véspera das eleições. Em Bauru, SP, uma idosa morreu após escorregar nos santinhos e cair. É um absurdo, isso tem que acabar. Aliás, se eu for hoje pra frente de uma escola e despejar um monte de papel na rua, provavelmente terei problema com a Justiça. Então alguém aí me explique, por favor, por que os candidatos podem fazer isso na noite e madrugada que antecedem as eleições? São toneladas de santinhos nas ruas, o vento ajuda a espalhar, vai para os bueiros, para dentro dos jardins das residências e fica tudo por isso mesmo, ninguém faz nada. Na verdade, esse ano tivemos uma iniciativa muito legal aqui em Lavras, um grupo chamado "Lavras Limpa", que reuniu voluntários para dar plantão em frente às escolas, na madrugada de domingo, dia das eleições, para fotografar esse tipo de prática arcaica de fazer campanha. Em tempo real, essas fotos iam sendo postadas no perfil do grupo no Facebook.

Você acha que nas próximas campanhas, alguns candidatos adotarão a sua estratégia?
JMF: Tomara que sim. As pessoas de bom senso agradecem. Aliás, já vi candidato derrotado, que usou cavalete, se manifestando esta semana no Facebook, dizendo que deveriam proibir cavaletes. Que bom que ele mudou de opinião rápido.

Quer agradecer a alguém?
JMF: Sim. A Deus, à minha família, a todos que me apoiaram e ao Mark Zuckerberg.






Fonte: Informações Jornal de Lavras

Um comentário:

  1. Parabéns amigo, seu blog é muito bom... Continue assim e terá muito sucesso.

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