Não tem graça pegar qualquer um

Bastam um olhar e um decote. Alguns ainda dificultam um pouco, esperando uma ou outra piadinha mais elaborada. Mas a maioria topa mesmo sem esforços cerebrais.

Pegar um homem é das coisas mais banais que existe. A vida de uma mulher razoavelmente moderna e sexualmente ativa é como uma solidão assistida.

O encanto acaba na manhã seguinte, quando ele faz um teatrinho bobo enquanto você reza pra ele tomar logo o copo de suco e sumir da sua frente o mais rápido possível. Então o fulano não falou nada genial a noite inteira, foi para a sua casa sem nem saber direito quem você era e agora quer mostrar que sabe formar frases?

Acabaram os bons partidos que precisam de intimidade para se soltar. De tempo para se doar. De trocas intelectuais para se excitar. De abraços e mãos dadas e juras de amor para sentir prazer. De risos e conversas malucas e indicações de filmes e trocas de livros para se interessar. De meses e meses de historinhas e almoços e jantares e festas para adormecer ao lado.

A transa deixou faz tempo de funcionar como um prêmio, um mérito, uma medalha, um troféu. A sensação de “esse cara é para poucas, para quase nenhuma, só para mim” foi substituída por “umas três amigas minhas já pegaram e disseram que é bom”. É quase como se eles viessem em catálogos, com indicações de mulheres conhecidas, que dão notas. É tipo fazer compras no Mercado Livre.

Fica difícil namorar esse cara que já virou quase um objeto num mesmo grupinho de amigas. Fica difícil amar ou querer casar com um cara que sensualizou com todas elas. Então você não é especial? Então você vai querer esse protótipo que todas as suas amigas já repassaram? E a coisa anda tão sem graça que pelo menos um terço das mulheres que conheço estão preferindo experimentar outras mulheres.

O lesbianismo, antes praticado apenas por amebinhas de 19 anos querendo causar em festinhas fúteis, agora é uma alternativa comum das balzaquianas. Sim, nós também gostamos de dificuldade. De mocinhos limpinhos, seletivos e à espera de um amor. O “grande pegador” do colegial era popular lá no colegial. Mas o cara da firma que passou o rodo desde a recepcionista até a vice-presidenta não nos interessa mais. Quer dizer, podemos até reparar nele, mas, depois dos 30, que graça tem conquistar um cara que pega qualquer uma?

Que mulher vai realmente querer para pai dos seus filhos o cara que penetrou metade da população de sua cidade? Sim, eu estou tendo um acesso de puritanismo ou machismo ou tradicionalismo ou “relogiobiologicolismo”, ou seja lá o que for. Só sei que cansei. Quero parar e quero um bom moço que mereça que eu pare.
É que com 20 anos a gente até acredita que “el grande comedor” é um desafio a ser vencido. E com 25 também não pode falar muito porque está na mesma farra desenfreada que esses franco-atiradores. Com 29, está desesperada, com medo de fazer 30, e querendo se apegar a esses homens que não valem o que comem (e por isso comem a gente que, nesse momento, não vale muita coisa).

Mas, com alguma matu­ridade, preferimos o homem difícil, dedicado, bom moço, para casar. Aquele que, em vez de nos trazer bactérias e longas noites sem resposta, provoca uma vontade nova e profunda e verdadeira de ser uma grande parceira de vida para alguém.

É, eu sei, eu também não estou acreditando que escrevi esse texto. Rezem por mim.









Fonte: Tati Bernardi/Alfa

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